Terça, 18:25, já estava eu dentro do metrô lendo os últimos capítulos de uma grande história. A qual deixei de conhecer no cinema para não estragar a graça da leitura. Há algum tempo eu queria ler, mas, em geral, os livros são assim mesmo, não são? Caem em nossas mãos naquele exato momento em que vão despertar determinadas emoções.
Logo que vagou um lugar, entre as nove estações que eu percorreria, sentei, isso porque as lágrimas começaram a descer dos meus olhos sem contenção. (To ficando craque em chorar dentro do metrô disfarçadamente).
Nem conseguia parar de chorar e nem conseguia parar de ler.
Sim, cheguei ao fim já em casa e só agora estou começando a entender porque tanta emoção.
Pergunte ao Pó, de John Fante.
Alguns livros realmente mexeram comigo, no meu jeito de agir e de me comportar. Esse por acaso, me deixou mais triste, com saudades do que não vivi.
Desde a semana passada que venho me calando, me calando, me calando…pensando em muitas coisas que eu gostaria de realizar e que não realizei. E eu não sou Arturo Bandini : “nem homem, nem pássaro, nem um arenque vermelho…”
O personagem de Pergunte ao Pó é um escritor arrogante, convencido e encantador. Um lunático, gastador, que fala qualquer coisa que lhe passa pela cabeça, menos o que realmente sente. Um looser que passa fome, mas que acaba se sustentando de seu próprio talento, de qualquer forma, preferindo continuar morando em um quarto de hotel barato e usando suas roupas velhas e confortáveis. Um cara capaz de ter compaixão pelo ser-humano, mas incapaz de assumir um grande amor. Ele contrapõe o amor que sente pela garota mexicana Camilla Lopez, com desprezo, até que resolve revelar o que sente, tarde demais?
Na internet encontrei um prólogo escrito pelo próprio John Fante para Pergunte ao Pó:
“Mas um grande homem deve perdoar, então o grande homem sentou em seu quarto e ponderou sobre a alma atormentada de seu amor e condenou-se por sua vergonha — ela não era mais culpada que qualquer boa garota americana seria por gritar sua aversão pela vulgaridade e brutalidade da lower Main Street. Uma carta de desculpas era necessária, a ser escrita com palavras bem escolhidas e em pena e tinta sobre papel branco e simples, assinado com todos os floreios de uma assinatura cuidadosamente praticada. Antes tarde do que nunca, uma carta cuidadosa não admitindo seu grande amor e terminando com “cordialmente”.”
Porque ele antes de qualquer coisa era um homem que se achava mesmo um grande homem. Um herói às avessas…um sofredor do qual você não sente pena, um cara que não desperta compaixão, mas que desperta uma alegria imensa quando consegue colher os frutos de seu trabalho.
Acima de tudo o livro me fez mesmo engolir pó. No sábado vivi uma noite totalmente beatnik e depois disso, parece que caí do carro em movimento na estrada… sei que não é por acaso que o vazio do personagem se encontrou com um buraco em mim! Me deu vontade de mergulhar em mares gelados e perigosos (quem se importa?), de encontrar o meu canto, de voltar a acreditar em mim , de ter um porto-seguro ou pelo menos uma janela, onde eu possa jogar também as minhas pedrinhas.