Como uma oração:
As árvores retorcidas me mostraram capacidade de sobrevivência em situação aparentemente adversa. Solo seco, sol, muito sol, mas muita água em segredo, guardada.
As águas cristalinas nutriram de carinho e aconchego o meu corpo tão machucado, sem cobranças ou pressões de certo ou errado.
Alegria infantil, cada vez que os peixes vinham me “bicar” quando eu entrava no nosso poção particular…bicadinhas cicatrizantes, me disse uma amiga.
As caminhadas exaustivas me surpreenderam. Fiquei de queixo caído em cada exuberância da natureza em que cheguei!
Pela beleza das paisagens, pelas pedras maravilhosas do caminho, pela escalada de risco: nem dava para olhar para baixo, muito menos para trás…grande aprendizado!
Pensamentos que iam e vinham, sobre outros, sobre mim mesma…
O silêncio que se quebrava com as piadinhas dos companheiros de viagem. O silêncio que se estabelecia e me dava força na subida.
A confiança nas travessias mais improváveis. De mãos dadas na correnteza do rio.
A coluna de chuva ao longe e depois sobre nossas cabeças. Os raios e trovões que enfrentamos no topo do mundo, com medo, sem medo… eu, totalmente dissolvida na tempestade!
O verde, o árido, as plantas medicinais em todos os lugares, as flores mais lindas de todos os tipos encantando o caminho, escancarando seus brotos.
A simplicidade de amigos locais que nem sabem a riqueza de que são donos, muito mais do que nós, os urbanóides, neuróticos, de plantão.
O tempo voando…
O forró, as músicas mais lindas de cancioneiros populares exibidas na fogueira da noite, em bela voz e violão.
A falta que não fez falta: de água encanada, banheiro, energia elétrica.
A possibilidade de ser feliz com tão pouco, mas que a gente se toca que é muito: o mundo.
A vontade cada vez maior de conhecer, de descobrir.
O corpo exausto, o sono pesado da noite, as poucas lembranças do que falei, muito mais lembro do que ouvi.
Os cliques das máquinas fotográficas de todos os tipos nas nossas expedições.
Os músculos doídos e a personalidade de cada um: aceitação.
A amizade, a solidão, o não ser nada e ser feliz.
A certeza de que existem muitos lugares ainda que me levem a acreditar, que me façam sorrir, que me façam brilhar por fazer parte.
Emocionada…algumas lágrimas que escorreram por deslumbramento…
Lá no alto, na beira da pedra, agarrada, a vontade de voar, de partir..a atração em me jogar, por me sentir tão integrada.
A vontade de ficar, o aumento visível da minha capacidade de amar. A vontade de viver para ser mais feliz.
Com cada um que convivi, os amigos que fiz, a dança que me proporcionei.
Levei comigo nas caminhadas os seguintes pensamentos: a humildade sincera do perdão, o agradecimento real pelo ser-humano que sou e o maior amor que sinto por tudo o que atraio e que me sinto atraída.
Valeu Chapada dos Veadeiros!
Eu sabia há muito tempo que deveria ir e agora me resta a certeza de que breve estarei de volta. Voltei totalmente com o pé na estrada!